Dra. Jussara Sousa – Nutrologia em Belo Horizonte – MG

Introdução

O diabetes tipo 2 e a obesidade são dois dos maiores desafios de saúde pública da atualidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 500 milhões de pessoas vivam com diabetes no mundo, e os índices de obesidade não param de crescer. Esses dois problemas frequentemente andam juntos, aumentando os riscos de doenças cardiovasculares, renais, neurológicas e até câncer. Nos últimos anos, novas medicações surgiram como promissoras aliadas no controle dessas doenças. Entre elas, destaca-se a tirzepatida, uma medicação inovadora que vem ganhando destaque na comunidade médica por sua eficácia no controle da glicose e na perda de peso.

A Dra. Jussara é especializada no diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes com Obesidade e que desejam perder peso de uma maneira saudável.  

Ela é médica em Belo Horizonte e atualmente atende em sua própria clínica. É uma profissional formada em Medicina com especialização em Clínica Médica pelo Hospital Felício Rocho e em Nutrologia pela associação Brasileira de Nutrologia

Ela se dedica a entender as necessidades específicas de cada indivíduo, criando planos de atendimento exclusivos, que respeitam o estilo de vida e os objetivos de cada paciente, ajudando a melhorar assim a qualidade de vida e a autoestima.

O que é a Tirzepatida?

A tirzepatida é um medicamento injetável de uso semanal aprovado inicialmente para o tratamento do diabetes tipo 2, mas que também demonstrou excelente eficácia no tratamento da obesidade, mesmo em pessoas que não têm diabetes. A tirzepatida atua de forma diferente das medicações tradicionais, e isso tem chamado a atenção de médicos, pesquisadores e pacientes.

A tirzepatida já foi aprovada em diversos países pelo mundo. No Brasil, a Anvisa aprovou seu uso tanto para o tratamento do diabetes tipo 2 quanto, mais recentemente, como opção terapêutica para o controle de peso em pessoas com obesidade ou sobrepeso associado a comorbidades.

Como funciona a Tirzepatida? – Mecanismo de ação

A tirzepatida é uma molécula que atua de forma dupla: ela imita os efeitos de dois hormônios naturais do nosso organismo, chamados GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) e GIP (polipeptídeo inibidor gástrico ou insulinotrópico dependente de glicose). Esses dois hormônios fazem parte da chamada via incretínica, que ajuda a regular a glicose no sangue e o apetite.

Ação do GLP-1:

  • Estimula a liberação de insulina (quando a glicose está alta).
  • Diminui a liberação de glucagon (hormônio que aumenta a glicose no sangue).
  • Retarda o esvaziamento do estômago (aumentando a saciedade).
  • Reduz o apetite.

Ação do GIP:

  • Também estimula a secreção de insulina.
  • Pode ter efeitos sinérgicos com o GLP-1 na regulação do peso corporal e da glicemia.
  • Atua em centros cerebrais relacionados ao apetite e à saciedade.

Ao combinar a ação desses dois hormônios, a tirzepatida proporciona um controle muito mais eficaz da glicemia e da fome. Isso se traduz, na prática, em melhor controle do diabetes tipo 2 e em perda de peso significativa.

Modo de uso da Tirzepatida

A tirzepatida é administrada por injeção subcutânea (ou seja, embaixo da pele), uma vez por semana. A aplicação pode ser feita na coxa, abdômen ou parte superior do braço.

A dosagem é progressiva, começando normalmente com 2,5 mg por semana, para que o corpo se adapte e os efeitos colaterais sejam minimizados. Posteriormente, a dose pode ser aumentada de forma gradual até atingir doses de 5 mg, 10 mg, 12,5 mg ou até 15 mg por semana, dependendo da resposta do paciente e da tolerância ao medicamento.

A aplicação semanal é considerada uma vantagem, pois facilita a adesão ao tratamento, especialmente quando comparada a outros medicamentos de uso diário.

Biodisponibilidade e farmacocinética

A biodisponibilidade refere-se à quantidade do medicamento que efetivamente chega à corrente sanguínea após sua administração. No caso da tirzepatida, embora seja administrada por via subcutânea, ela apresenta uma absorção lenta e contínua, o que permite o uso apenas uma vez por semana.

A meia-vida da tirzepatida — ou seja, o tempo que leva para a concentração do medicamento no corpo ser reduzida à metade — é de aproximadamente 5 dias, o que justifica sua frequência semanal de uso.

Após a aplicação, o pico de concentração é atingido em cerca de 8 a 72 horas. A eliminação é feita principalmente pelas vias renais e metabólicas hepáticas.

Efeitos colaterais da Tirzepatida

Assim como qualquer medicamento, a tirzepatida pode causar efeitos colaterais. A maioria deles está relacionada ao sistema gastrointestinal, especialmente no início do tratamento, quando o corpo ainda está se adaptando à medicação.

Efeitos mais comuns:

  • Náuseas
  • Vômitos
  • Diarreia
  • Constipação (prisão de ventre)
  • Perda de apetite

Esses efeitos geralmente diminuem com o tempo, especialmente se a dose for aumentada de forma gradual. Algumas pessoas também podem apresentar:

  • Dor abdominal
  • Indigestão
  • Fadiga leve

Efeitos mais raros (mas importantes de observar):

  • Pancreatite (inflamação no pâncreas)
  • Hipoglicemia (quando usada em combinação com insulina ou sulfonilureias)
  • Reações alérgicas
  • Possível associação com tumores de células C da tireoide (em estudos com roedores)

Por isso, a tirzepatida é contraindicada em pessoas com histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular da tireoide ou de síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (MEN2).

Interações medicamentosas

Embora, a tirzepatida não tenha um grande número de interações medicamentosas perigosas, é importante estar atento a alguns pontos:

  • Medicamentos para diabetes: ao ser usada com insulina ou sulfonilureias (como glicazida, glimepirida), há maior risco de hipoglicemia. Por isso, pode ser necessário ajustar as doses desses medicamentos.
  • Medicamentos de absorção oral: como a tirzepatida retarda o esvaziamento gástrico, pode alterar a absorção de medicamentos que dependem de tempo exato de absorção. Exemplos incluem contraceptivos orais, alguns antibióticos e levotiroxina. Nesses casos, pode ser necessário ajustar o horário de administração.
  • Álcool: o uso de álcool pode aumentar o risco de hipoglicemia, especialmente quando combinado com outros medicamentos antidiabéticos.

Resultados e eficácia clínica

Estudos clínicos mostraram que a tirzepatida pode reduzir a glicemia de jejum e a hemoglobina glicada (HbA1c) de forma significativa. Em muitos pacientes, os níveis de HbA1c caíram abaixo de 6,5%, que é o valor-alvo para controle do diabetes tipo 2.

Além disso, os estudos mostraram perda de peso média entre 10% a 20% do peso corporal em pessoas com obesidade — um resultado semelhante ao alcançado com cirurgia bariátrica em alguns casos. Isso representa uma revolução no tratamento da obesidade.

Perspectivas futuras

A tirzepatida já se mostrou eficaz não apenas no diabetes tipo 2, mas também no tratamento da obesidade isolada, o que levou à aprovação da medicação para essa finalidade em diversos países. Ela também está sendo estudada para:

  • Síndrome do ovário policístico (SOP)
  • Doença hepática gordurosa não alcoólica (esteatose hepática)
  • Doença cardiovascular relacionada ao sobrepeso e obesidade

Com o sucesso da tirzepatida, novas gerações de medicamentos semelhantes estão sendo desenvolvidas, com potencial para agir ainda mais profundamente no sistema de controle de peso e glicemia.

Impacto na saúde pública

O impacto da tirzepatida pode ser enorme em nível de saúde pública. Isso se deve a vários fatores:

  1. Redução de complicações do diabetes: melhor controle glicêmico significa menos amputações, menos cegueira, menos doenças renais e cardiovasculares.
  2. Menor custo a longo prazo: embora a medicação seja cara atualmente, a redução de hospitalizações e complicações pode representar economia para os sistemas de saúde no futuro.
  3. Redução da obesidade: a obesidade está ligada a dezenas de doenças crônicas. Reduzindo o peso de forma eficaz, é possível prevenir muitas delas.
  4. Acesso e equidade: um desafio é garantir o acesso à medicação para populações de baixa renda, principalmente em países em desenvolvimento.

Conclusão

A tirzepatida representa uma das maiores inovações recentes no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade, duas das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo moderno. Seu mecanismo de ação duplo, que imita os hormônios GLP-1 e GIP, proporciona uma abordagem mais eficaz e abrangente no controle da glicemia e no manejo do peso corporal, superando muitos dos tratamentos tradicionais disponíveis até então.

Os resultados clínicos impressionantes, com redução significativa da hemoglobina glicada e perda de peso em níveis comparáveis aos da cirurgia bariátrica, colocam a tirzepatida como uma das medicações mais promissoras da última década. Além disso, sua administração semanal, associada a um perfil de segurança aceitável e a múltiplos benefícios metabólicos, aumenta a adesão dos pacientes ao tratamento e melhora sua qualidade de vida.

No entanto, o custo elevado e o acesso limitado ainda são barreiras importantes, especialmente em países com recursos mais restritos. Nesse sentido, o desafio das políticas públicas de saúde será encontrar formas de incorporar essa inovação de forma equitativa, garantindo que seus benefícios cheguem a quem mais precisa.

Com o avanço das pesquisas e o surgimento de novas formulações, é provável que a tirzepatida e medicamentos similares se tornem pilares centrais no enfrentamento das epidemias globais de obesidade e diabetes. Seu uso estratégico, aliado à educação em saúde, mudanças de estilo de vida e acompanhamento multidisciplinar, pode representar uma verdadeira revolução terapêutica — com potencial para transformar o panorama da saúde pública nas próximas décadas.

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